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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Polêmica Ancorada

Ideia de secretário de mudar local do Porto de Salvador gera debate.


"Sugestão de secretário Guilherme Bellintani, durante o Fórum Agenda Bahia, de alterar local do Porto de Salvador acende polêmica no setor. Debate é entre os investimentos realizados e o potencial de negócios e a revitalização do espaço."

 Ao apresentar sua proposta de retirada do Porto de Salvador do Comércio, o secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani, disse saber que causaria polêmica. E tinha razão. 

Para alguns, a medida é precipitada, para outros representa o progresso. Bellintani apresentou a proposta durante debate sobre Turismo Sustentável, no Fórum Agenda Bahia, na terça-feira. Ele disse que “o resultado do porto é muito pouco para o espaço que ocupa e o tanto que atrapalha” e também que é “fundamental (o equipamento) sair dali”. O secretário apresentou como exemplos a revitalização dos portos de Buenos Aires (Puerto Madero) e Barcelona. 

Ontem, Bellintani informou que a ideia é “iniciar uma discussão” sobre o assunto e disse que não necessariamente todo o porto teria que sair dali. “O que estou propondo é iniciar uma discussão sobre novos usos para aquele espaço, sobre o futuro da cidade e de como aquele equipamento pode ser transformado em uma área turística”, afirmou. “Não sei se seria necessário a retirada de todo o porto daquele local ou se bastaria a retirada de parte dessa área. O que é preciso é discutir a utilização daquele espaço”, disse.
Porto, no Comércio: volume de investimento na área é apontado como justificativa para manter atividade no atual local.

Críticas
O presidente da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), José Muniz Rebouças, não vê com bons olhos a proposta do secretário. Segundo ele,  o porto movimenta acima de US$ 5 bilhões (R$ 12 bilhões) por ano em mercadorias.  De acordo com informações do Terminal de Contêineres de Salvador (Tecon), a receita líquida do porto é de R$ 140 milhões. 

Rebouças destacou também que, para deslocar o porto, será, primeiramente, necessário uma determinação do governo federal, responsável pelo planejamento portuário do país. “Em seguida, tem que haver um volume de investimento muito grande. Só na obra da Via Expressa foram investidos R$ 500 milhões. Seriam necessário bilhões e bilhões para obras de  acessibilidade, para dragar porto, construir infraestrutura portuária”, ponderou. 

De acordo com Rebouças,  a Codeba já tem um projeto para transformar uma área do porto em polo turístico.  “Temos 10 mil m² para integração com a cidade, para construção de restaurantes, espaços para entretenimento e até para convenções. Tudo isso a partir de um processo de licitação a partir de 1º semestre de 2015”.

Ainda segundo Rebouças, o caso de Puerto Madero, em Buenos Aires, não é um bom comparativo. “Puerto Madero era o porto de um rio que foi desativado porque a profundidade era pequena. Grandes navios não tinham condições para chegar.  Quando desativado, virou uma área degradada e, posteriormente, transformaram numa área gastronômica”, explicou. 

O responsável pela unidade  Bahia-Sergipe  da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) Alfeu Luedy também criticou a proposta. “Entendo como intempestiva, já que a soma vultosa de recursos federais foi investida na dragagem do Porto de Salvador, na construção da Via Expressa, na construção de moderna Estação de Transbordo de Passageiros e na ampliação e modernização do Terminal de Contêineres do Porto de Salvador”, disse.

Segundo ele, a proposta tem pontos negativos que precisam ser discutidos com cautela. “O aspecto negativo é financeiro e ambiental. Fazer nova infraestrutura portuária, novos acessos rodoviários, ia impactar, ambientalmente, outros sítios”, disse.  Ele destaca ainda que os ganhos urbanísticos são “de difícil mensuração”. “O polo turístico pode ser feito em outras áreas da cidade, sem rejeitar um equipamento tão caro e tão dinâmico como o porto”, afirmou.

Ponderações

O presidente na Bahia da Associação Brasileira de Agências de Viagens  (Abav-BA) e vice-presidente do Conselho Baiano do Turismo, José Alves Peixoto Júnior, sonha com uma revitalização do espaço. 

“O estado precisa diversificar os seus pontos de atração. Locais antigos precisam ser revisitados, mas também é preciso outros olhares e esse (o projeto de requalificação do Porto de Salvador) se tornou um sonho”, disse. 

Na avaliação de Peixoto Júnior, para que o projeto saia do papel, é preciso abrir mão da zona portuária comercial de contêineres. “É, inclusive, uma área da cidade que já teve a sua importância histórica. É um local  que precisa ser explorado. Lá há um patrimônio cultural muito forte, além de ter algo que não se encontra em nenhum lugar do mundo que é a Feira de São Joaquim”, enumera. 

Para o urbanista Ney Castro, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), as alterações não provocariam muitas alterações. “A atividade comercial da Cidade Baixa já é reduzida, o tecido urbano da cidade está redesenhado, a cidade já não possui um centro comercial como foi o Comércio e a Cidade Baixa, então, isso não terá implicações danosas”, afirmou.

Ele apontou a necessidade de discutir o assunto com cuidado. “Acho que tudo isso deve passar primeiro por uma discussão mais ampla com as força sociais para entender o redimensionamento da cidade, saber o que a cidade quer”, afirmou.


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