O crescimento dos mercados globais, o aumento da competitividade e as
influências de tecnologia, obsolescência e a modernidade estão causando
significativos impactos na rotina das organizações.
Estas mudanças ocasionaram o aumento da necessidade de integração das operações comerciais e de
transporte e planejamento, momento em que foi percebida a capacidade da
logística
em criar valor para o cliente, o que fez com que a atividade tomasse um
papel essencial na otimização dos recursos e na modernização das
técnicas de
gestão e de produção das empresas.
O foco antes dedicado exclusivamente à obtenção de vantagem
competitiva em embalagem, desenvolvimento de novos produtos e redução de
custos de matéria prima, hoje passou a ser ampliado, pois a grande
maioria dos produtos disponíveis no mercado hoje não é totalmente
consumida.
Com o aprimoramento dos conceitos e das ferramentas logísticas
ocorreu um processo de especialização visando atender uma necessidade
crescente de gestão eficiente do fluxo de retorno de produtos e
materiais. A partir deste momento o fluxo inverso da
cadeia de suprimentos passou a fazer parte das competências logísticas, sem perder seu foco: satisfação dos clientes.
Os descarte adequado de resíduos de
materiais não utilizados, embalagens e produtos com componentes químicos
estão caracterizando um grande desafio às organizações, e seu impacto
sobre a sociedade e meio ambiente fazem do tema um caso de extrema
relevância.
Entre as alternativas de destino a estes materiais, existe a
reciclagem, o reprocessamento e devolução ao mercado, ou ainda, no caso
de não haver mais utilidade do material, o descarte pela deposição em
algum depósito definitivo na forma de lixo. O processo de movimentação
destas mercadorias se dá através de canais de distribuição especiais.
É notável o crescente interesse pelo assunto convencionalmente chamado de “
logística reversa”, contudo ainda poucos autores se dedicaram a pesquisa e desenvolvimento de material científico sobre o tema.
Na Logística tradicionalmente realizada, parte-se de um fabricante e
define-se o caminho até o consumidor final. De forma simplificada, a
Logística Reversa trata do caminho inverso, no qual o produto tem como
ponto de partida os inúmeros consumidores, com destino ao fabricante.
Desta forma pode-se verificar a primeira característica do processo: o
desafio de reunir produtos disseminados entre milhares de clientes para
retornarem a um mesmo fabricante. As empresas cada vez mais investem em
campanhas sociais e buscam comprometer-se com o meio ambiente e com a
saúde. Assim as empresas estão sendo obrigadas a repensar suas
estratégias comerciais e seus produtos, pois sua imagem é diretamente
afetada caso seu produto cause danos à sociedade.
1. A Logística Reversa e seus Canais de Distribuição
Apesar da literatura ainda ser bastante restrita sobre o tema,
existem algumas definições, conceitos e nomenclatura de Logística
Reversa bem aceitos em geral que apresentamos a seguir.
A logística reversa apresenta diversas definições que foram evoluindo ao longo do tempo. Algumas delas apresentamos abaixo.
“Logística reversa é um amplo termo relacionado às habilidades e
atividades envolvidas no gerenciamento de redução, movimentação e
disposição de resíduo de produtos e embalagens…” (CLM, 1993:323, Apud:
Leite, 2003).
“Logística reversa: em uma perspectiva de logística de negócios, o
termo refere-se ao papel da logística no retorno de produtos, redução na
fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais,
disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura…” (Stock,
1998:20, Apud: Leite, 2003).
“O Processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e
custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo,
produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo
para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar
à apropriada disposição” (Rogers e Tibben-Lembke, 1999:2, Apud: Leite,
2003).
“Logística reversa cuida dos fluxos de materiais que se iniciam nos
pontos de consumo dos produtos e terminam nos pontos de origem, com o
objetivo de recapturar valor ou de disposição final” (Novaes, 2004:
54).
Adotaremos neste documento a
definição de logística Reversa de Leite (2003:16), assim definida: “entendemos a logística reversa como a área da
logística empresarial
que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas
correspondentes do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao
ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas:
econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre
outros”.
Desta forma, a logística reversa tem como objetivo, segundo Leite
(2003), tornar possível o retorno dos bens ou de seus materiais
constituintes ao ciclo produtivo ou de negócios, agregando valor
econômico, ecológico, legal e de localização. Ainda segundo Novaes
(2004) a logística reversa tem dois objetivos distintos: (1) recapturar
valor; e (2) oferecer disposição final.
Estas atividades visam 3 finalidades: reciclagem, reprocessamento ou
descarte. Entende-se como reciclagem a transformação de
componentes/materiais usados para serem reincorporados na fabricação de
novos produtos. Este é o exemplo do aço: a sucata de produtos
descartados é misturada ao mínimo de ferro em indústrias siderúrgicas.
Sob a ótica da reciclagem e preservação do meio ambiente, alguns
autores citam a logística reversa como logística verde. A indústria de
latas de alumínio é notável no seu grande aproveitamento de matéria
prima reciclada, tendo desenvolvido meios inovadores na coleta de latas
descartadas.
Nos casos em que a reciclagem é anti-econômica ou há excesso de
oferta no mercado, é necessário garantir o descarte de forma segura para
a população e meio ambiente.
Existem ainda outros setores da indústria onde o processo de
gerenciamento da logística reversa é mais recente, como na indústria de
eletrônicos, automobilística e de produtos radioativos. Estes setores
também têm que lidar com o fluxo de retorno de embalagens, de devoluções
de clientes ou do reaproveitamento de materiais para produção.
Tendo como foco o reprocessamento para ampliação do ciclo de vida do
produto/embalagem, podemos citar como exemplo os fabricantes de bebidas.
Estes têm que gerenciar todo o retorno das garrafas dos pontos de venda
até seus centros de distribuição.
Uma situação diferenciada trata de empresas terceiras que têm como
objetivo de negócio a reciclagem de materiais para um novo processo
produtivo, independente do fabricante original. Podemos citar exemplos
de produtos inseridos neste cenário como sendo pneus, cartuchos de tinta
de impressoras, garrafas pet, etc., que não voltam para sua indústria
de origem, mas sim são fontes de matéria prima para indústrias
completamente diferentes.
No caso de latas de alumínio a logística reversa ocorre para
reciclagem dos produtos. As latas são recolhidas, sofrem compactação em
volumes menores e retornam para os fabricantes. Esse processo se deve ao
alto custo do metal.
É importante que, neste estágio, conceituemos a vida útil de um bem
como sendo o tempo decorrido desde a sua produção original até o momento
em que o primeiro possuidor se desembaraça dele. Esse desembaraço pode
ocorrer pela extensão de sua vida útil, com novos proprietários ou pela
disponibilização por outras vias, como a coleta de lixo urbano, as
coletas seletivas, as coletas informais, entre outras, passando-a à
condição de bens de pós-consumo (Leite, 2003).
As duas grandes áreas de logística reversa, tratadas de forma
independente pela literatura, são diferenciadas pelo estágio ou fase do
ciclo desta vida útil do produto retornado, conforme ilustrado na figura
7. Esta diferença se faz necessária, pois o produto logístico, os
canais de distribuição reversos em que os produtos percorrem, os
objetivos de negócio e, por fim, as técnicas operacionais utilizadas em
cada área de atuação, são distintos.
A
logística reversa de pós-venda é área de atuação
da logística que se ocupa do equacionamento e operacionalização do fluxo
físico e das informações logísticas de bens de pós-vendas em uso ou com
pouco uso, os quais por diferentes motivos retornam aos diferentes
estágios das cadeias de distribuição direta. O objetivo do negócio desta
área da logística empresarial é agregar valor a um produto que é
devolvido por razões comerciais, erro no processamento dos pedidos,
garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento,
avarias no transporte, etc..
Por outro lado, a
logística reversa de pós-consumo é
a área de atuação da logística que equaciona e operacionaliza o fluxo
físico e as informações correspondentes de bens de consumo que são
descartados pela sociedade e que retornam ao ciclo de negócios ou ao
ciclo produtivo por meio dos canais de distribuição reversos
específicos.
Bens de pós-consumo são bens em fim de vida útil, ou usado com
possibilidades de reutilização, e os resíduos industriais em geral. O
objetivo de negócio desta área da logística é agregar valor a um produto
logístico constituído por bens sem interesse de uso ao proprietário
original ou que ainda possuam condições de utilização, por produtos
descartados no final de sua vida útil e por resíduos industriais.
Figura 1: área de atuação e as diversas etapas da logística reversa
O campo de atuação da logística reversa é bem ilustrado por Leite
(2003) através da figura 2, onde são resumidas as principais etapas dos
fluxos reversos nas duas áreas de atuação acima citadas.
Figura 2: Foco de atuação da logística reversa
Na figura 2, acima, observamos as duas grandes áreas da logística
reversa, pós-consumo e pós-venda, sua interdependência e suas diversas
etapas, classificadas conforme motivações de seu retorno:
Bens de pós-venda:
- Garantia/qualidade: devoluções de produtos que apresentam defeitos de fabricação ou de funcionamento, avarias de produto ou de embalagem.
- Comerciais: retorno de produtos devido a erros de expedição,
excessos de estoque no canal de distribuição, mercadorias em
consignação, liquidação de estação de vendas, pontas de estoque etc.,
que retornam ao ciclo de negócios por meio de redistribuição em outros
canais de vendas. Outro motivo comercial para o retorno de produtos é o
término de validade de produtos ou problemas observados no produto após a
venda, o chamado recall.
- Substituição de componentes: retorno de bens duráveis e semiduráveis
em manutenções e consertos ao longo de sua vida útil e que são
remanufaturados e retornam ao mercado primário ou secundário ou enviados
à reciclagem ou para disposição final quando não reaproveitados.
Bens de pós-consumo:
- Condições de uso: retorno do bem durável ou semidurável que há
interesse de sua reutilização, com a vida útil estendida, percorrendo o
canal reverso de reuso em mercado de segunda mão até atingir o fim de
vida útil, caracterizando um loop de vida do produto.
- Fim de vida útil: esta etapa caracteriza-se por duas áreas: bens
duráveis ou dos descartáveis. Na área de duráveis e semiduráveis, os
bens utilizam o canal reverso de desmontagem e reciclagem industrial,
sendo desmontados na etapa de desmanche e seus componentes
reaproveitados ou remanufaturados, retornando ao mercado secundário ou à
própria indústria, sendo uma parte destinada à reciclagem. No caso de
descartáveis, os produtos retornam por meio do canal reverso de
reciclagem industrial, onde são reaproveitados e se transformam em
matérias-primas secundárias, voltando ao ciclo produtivo ou irão para a
disposição final, ou seja, aterros sanitários, lixões e incineração e
recuperação energética.
Assim sendo, os canais de distribuição reversos são divididos na literatura em dois tipos, a saber:
– Canais Reversos de pós-consumo: trata de produtos que têm vida útil
variável (de alguns dias até décadas), e após um tempo de utilização
perdem suas características básicas de funcionamento e retornam para o
ciclo produtivo de alguma forma, conforme mostra a figura 3 abaixo.
Figura 3: Exemplo de canal reverso de pós-consumo de eletrodoméstico.
– Canais Reversos de pós-venda: retorno de embalagens e devolução
de produtos ao varejista ou fabricante. Ex.: devolução de mercadorias
vendidas por catálogo da Rogers Tibben-Lembke (EUA)
2. Canais de Distribuição Reversos de Bens de Pós-Consumo e de Pós-Venda
Conforme Leite (2003), existem três grandes categorias de bens
produzidos: os bens descartáveis, os bens semiduráveis e os bens
duráveis classificados de acordo com a sua vida útil. Estas definições
são fundamentais para um melhor entendimento das atividades dos canais
de distribuição reversos.
Bens descartáveis: são bens que apresentam duração
de vida útil média de algumas semanas, raramente superior a seis meses.
São exemplos de bens descartáveis os produtos de embalagens, brinquedos,
materiais para escritório, suprimentos para computadores,
artigos cirúrgicos, pilhas de equipamentos eletrônicos, fraldas, jornais, revistas, etc.
Bens Duráveis: são os bens que apresentam duração de
vida útil variando de alguns anos a algumas décadas. Exemplos:
automóveis, eletrodomésticos, eletro-eletrônicos, as máquinas e os
equipamentos industriais, edifícios, aviões, navios, etc.
Bens semiduráveis: são os bens que apresentam
duração média de vida útil de alguns meses, raramente superior a dois
anos. Sob o enfoque dos canais de distribuição reversos dos materiais,
apresenta características ora de bens duráveis, ora de bens
descartáveis. Exemplos: baterias de veículos, óleos lubrificantes,
baterias de celulares, computadores e seus periféricos, revistas
especializadas, etc.
O acelerado desenvolvimento tecnológico vivenciado pela sociedade nas
últimas décadas, a introdução de novos materiais que têm substituído
outros com melhoria de
desempenho
técnico do produto e de sua embalagem e redução de custos dos produtos,
associados ao acirramento da competitividade, como conseqüência da
globalização e da própria tecnologia, têm feito que empresas passem a se
diferenciar pela constante inovação, reduzindo drasticamente o ciclo de
vida dos produtos causando um alto grau de obsolescência e assim sendo
uma alta tendência à descartabilidade. Esta tendência têm causado
modificações nos hábitos mercadológicos e logísticos das empresas
modernas, exigindo alta velocidade no fluxo de distribuição física dos
produtos.
Uma das conseqüências é a redução do ciclo de compra, observando-se
um aumento das quantidades de produtos devolvidos nas cadeias reversas
de pós-venda, exigindo um sistema de logística reversa mais eficiente.
Por outro lado, com os ciclos de vida cada vez menores, os produtos
ditos duráveis serão descartados mais rapidamente transformando-se em
semiduráveis. Da mesma forma, os produtos semiduráveis se tornarão
descartáveis. Assim sendo, os produtos de pós-consumo aumentam e exaurem
os meios de disposição final, tornando-se necessário equacionar o
problema de retorno dos bens de pós-consumo.
A figura 4, abaixo, ilustra o fluxo de produtos nos canais de
distribuição diretos, desde as matérias-primas até o mercado, chamado de
mercado primário dos produtos. Os canais de distribuição reversos de
pós-consumo são constituídos pelo fluxo reverso de uma parcela de
produtos e de materiais constituintes originados no descarte dos
produtos após a sua utilização pelo usuário original e retornando ao
ciclo produtivo. Dois são os subsistemas reversos: os canais reversos de
reciclagem e os canais reversos de reuso (Leite, 2003).
Os canais reversos de pós-venda são constituídos pelas diferentes
formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com pouco
e nenhum uso, que fluem no sentido inverso, do consumidor ao varejista
ou ao fabricante, do varejista ao fabricante, entre as empresas,
motivado em geral por problemas de qualidade, garantia, processos
comerciais entre empresas e retornando ao ciclo de negócios de alguma
forma.
Figura 4: Canais de distribuição diretos e reversos
Exemplos de Canais Reversos:
Canal Reverso |
Exemplo |
Características |
Reuso |
Leilões de Empresas |
Equipamentos usados, móveis, utensílios,
veículos, peças ou partes de equipamentos sem condições de uso
(sucata), sobrasindustriais, excessos de estoque de insumos, etc. |
Pós-Venda |
E-commerce |
Nível alto de devoluções por
não-conformidade às expectativas do consumidor (25 a 30%). Produtos
com embalagens individuais, clientes desconhecidos e demanda pouco previsível. |
Pós-consumo |
Embalagens Descartáveis |
Segmento dos mais importantes de canais
reversos. Revalorização pelo sistema de reciclagem dos materiais que o
constituem. Alta “visibilidade ecológica”. Em geral são dispostos
impropriamente, gerando poluição em centros urbanos. |
Pós-venda |
Lojas de Varejo |
Consumidores devolvem ao varejista
produtos recém adquiridos e não consumidos. Os motivos são
principalmente: arrependimento pela compra, erro na escolha, defeitos,
não entendimento dos manuais. |
3. Motivos da crescente preocupação com a logística reversa, fatores de influência
A sociedade moderna vive hoje uma preocupação crescente com o
equilíbrio ecológico. O aquecimento global, a poluição do meio ambiente,
em muitas áreas descontrolada, são apenas dois exemplos de motivos da
sensibilidade ecológica que está se formando na consciência das pessoas,
de governos e, mais recentemente, entre empresas ao redor do mundo. O
crescimento econômico com o mínimo de impacto ambiental, chamado de
desenvolvimento sustentado, é um
conceito
aceito e utilizado hoje universalmente e baseia-se na idéia de
atendimento às necessidades da atual sociedade sem comprometer gerações
futuras.
As empresas modernas estão utilizando a logística reversa, própria ou
contratada de empresas especializadas, como forma de aumento de sua
competitividade no mercado. Pesquisa realizada nos EUA com empresas de
vários setores apontam diversos motivos estratégicos para a adoção de
atividades de logística reversa nas empresas, conforme mostrado no
quadro abaixo:
Quadro 1: Motivos para as empresas operarem os canais reversos.
Observa-se, portanto, que o motivo “aumento de competitividade”
destaca-se entre os demais, o que nos leva a refletir sobre a
consciência ecológica que os consumidores estão formando e a influência
que tal consciência está exercendo sobre as empresas. Outros fatores,
tais como, econômicos, legislativos, logísticos e tecnológicos são
apontados por Leite (2003) como os fatores principais de influência na
organização dos canais reversos de pós-consumo nas empresas. Tais
fatores atuando isoladamente ou em conjunto vão influenciar no
equilíbrio entre a quantidade disponível no fluxo dos canais diretos e
no fluxo dos canais reversos, como mostra a figura 5 abaixo.
Figura 5: Fatores que influenciam na organização dos canais reversos de pós-consumo
Os fatores Econômicos, Tecnológicos e Logísticos são os que
garantem interesses satisfatórios implicando em níveis mais altos de
organização nas cadeias reversas e, como tal, são chamados de fatores
necessários. Por outro lado, os fatores Ecológicos e Legislativos são
chamados de fatores modificadores, pois alteram as condições naturais do
mercado, nas diversas etapas reversas, permitindo que novas condições
de equilíbrio sejam estabelecidas.
Ainda segundo o autor, as condições essenciais de organização e implementação da logística são:
- Remuneração em todas as etapas reversas.
- Qualidade dos materiais reciclados
- Escala econômica de atividade.
- Mercado para os produtos com conteúdo de reciclados.
Os fatores citados acima, assim como, as condições essenciais para a
implementação da logística reversas formam uma modelo de dependência
entre tais fatores e os níveis de organização e dinamismo dos canais de
distribuição reversos (Leite, 2003).
4. Legislação Ambiental no Mundo e no Brasil
Alguns canais reversos se organizam por se mostrarem rentáveis
economicamente pela natureza do produto logístico, suas condições
tecnológicas de reutilização ou transformação. Outros canais, porém,
mostram-se pelas leis naturais do mercado pouco rentáveis. Assim quando
alguns desses canais apresentam um desequilíbrio com impacto ambiental
entre o fluxo direto e o reverso ocorre uma intervenção governamental em
forma de leis, muitas vezes exigida pela sociedade.
A legislação ecológica / ambiental encontra-se em diferentes estágios
nos diversos países e envolvem diferentes aspectos do ciclo de vida
útil de um produto, desde a fabricação e o uso de matérias-primas até
sua disposição final ou a dos produtos que o constituem.
Novos princípios de proteção ambiental estão sendo formados em
diversos países desenvolvidos, tal como, o de EPR (Extended Product
Responsability ou Responsabilidade Estendida do Produto) que preconiza a
idéia de que o produtor ou a cadeia industrial deve ter a
responsabilidade pelo seu produto até a decisão correta do seu destino
após o seu uso original.
Alguns desses novos conceitos em legislação ambiental são apresentados abaixo:
- Restrições a respeito de aterros sanitários e incineradores:
proibição de novos aterros sanitários em muitos estados americanos ou
proibição de disposição em aterros sanitários de certos produtos.
- Implantação de coleta seletiva domiciliar ou comercial.
- Responsabilidade do fabricante sobre o canal reverso de seus
produtos (“product take back”): legislação no Japão em 1997 impôs a
obrigatoriedade para a indústria automobilística de organização de rede
reversa de reciclagem. Em julho de 1996 França. Alemanha e Holanda em
acordo entre governos estabelecem que a responsabilidade de coleta,
reciclagem ou do reaproveitamento dos automóveis descartados pela
sociedade fosse para os fabricantes de automóveis.
- Uso de selos verdes para identificar produtos “amigáveis” ao meio
ambiente, produtos de pós-consumo que podem ou não ser depositados em
aterros sanitários, restrição ao uso de produtos com conteúdos de
matérias-primas secundárias, etc.
- Valor monetário depositado na compra de certos tipos de embalagens.
- Índices mínimos de reciclagem: alguns estados dos EUA adotam a
obrigatoriedade do equilíbrio de produção e reciclagem. Outros possuem
legislação específica incentivando o uso de produtos fabricados com
materiais reciclados. Alguns adotam um sistema tributário especial para
os diversos elos da cadeia reversa;
Nos EUA existem três grandes grupos de leis ambientais: sobre a
disposição final dos produtos e sistemas de coletas. As leis que
incentivam o mercado a usar produtos com algum índice de reciclagem,
regulamentando os selos verdes ou incentivos financeiros e, em forte
intensidade, as leis relativas à redução de resíduos sólidos na fonte e
interdição de produtos com alto impacto ambiental. Os governos locais
são responsabilizados para equacionar os problemas.
Na Europa as leis tendem a responsabilizar os produtores e demais
agentes da cadeia produtiva direta pelos problemas e estruturação dos
canais reversos de seus produtos. O ônus da coleta seletiva e da redução
de resíduos sólidos recai sobre os produtores.
No Japão é um dos países mais desenvolvidos em reciclagem de
materiais, porém, com baixa intervenção governamental em relação à
índices de reciclagem, apesar de apresentar os maiores índices de
reciclagem do mundo, em torno de 60% na maioria dos materiais
recicláveis, como papel, embalagens, baterias, etc.
No Brasil foi criado em 1998 o Programa Brasileiro de Reciclagem pelo
Ministério da Indústria e Comércio para propor uma legislação e
diretrizes na área. Vários aspectos envolvendo logística reversa de
pós-consumo estão sendo tratados em propostas de lei no congresso.
5. Cases de Logística Reversa
Caso INPEV:
Devido a alta do setor de agro negócios, a indústria de defensivos
agrícolas movimentou em 2003 US$ 2,5 bilhões. Esse faturamento gera em
média 23 milhões de quilos de embalagens de agrotóxicos por ano.
Depois do uso, estas embalagens se transformam em resíduos tóxicos, representando graves riscos à população e ao meio ambiente.
O governo regulamentou a coleta e desativação de embalagens de defensivos agrícolas em 2000, através da Lei Federal 9.974.
Com base nesta legislação foi criado um programa pioneiro que
estabelece claramente a responsabilidade de cada um dos elos da cadeia
de produção e abastecimento dos defensivos agrícolas, é o INPEV –
Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias.
O Inpev é composto por empresas associadas, órgão públicos,
agricultores, revendedores, cooperativas, organizações não
governamentais e associações de classe.
O instituto foi criado logo após a aprovação da lei 9.974 e tem a
responsabilidade de desenvolver e gerenciar instrumentos que garantam a
viabilidade operacional do processo.
Características do modelo:
- Agilidade e eficiência no manuseio de embalagens tóxicas;
- Aumento da segurança no manuseio destes materiais tóxicos.
O Inpev é responsável pelo transporte adequado das embalagens vazias
de defensivos agrícolas para destino final (recicladoras ou
incineradoras) conforme determinação legal.
Para realizar o processo logístico, o Instituto utiliza o
conceito de logística
Reversa, disponibilizando o caminhão que leva os agrotóxicos para os
distribuidores e cooperativas do setor e que voltaria vazio, para trazer
as embalagens vazias (a granel ou compactadas), que são recolhidas e
armazenadas nas unidades de recebimento, conforme modelo a seguir:
A implantação bem sucedida do modelo de Logística Reversa foi
conquistada através da parceria com a empresa líder no transporte de
defensivos agrícolas no Brasil, e o conceito está alinhado com os
princípios do instituto de preservação do meio ambiente e da saúde
humana e apresenta duas grandes vantagens, a saber:
- Segurança para o meio ambiente e saúde humana: uso de transportadora capacitada para realizar este tipo de transporte;
- Economia: caminhão já teve parte dos custos pagos quando levou produto cheio.
Dados atualizados no site oficial da INPEV informa que entre janeiro e
março de 2007 já foram recolhidas mais de 4.000 toneladas de embalagens
vazias de defensivos agrícolas. Nos últimos 12 meses (período
compreendido entre fevereiro de 2006 e março de 2007), já seguiram para
reciclagem ou incineração 20.202 toneladas de embalagens.
O fluxo logístico reverso realizado pelo Inpev ocorre confirme a ilustração a seguir:
Caso Panasonic:
No Japão a logística reversa está em destaque. Diversas iniciativas
têm garantido a aplicação dos conceitos dentro e fora dos limites das
fábricas.
A marca Panasonic, assim como a National, pertence ao grupo
Matsushita, que criou, em 2001, uma planta no Japão para reciclar
eletrodomésticos.
O Protocolo de Kyoto é o maior acordo para preservar o meio ambiente,
e a partir dele que a Matsushita desenvolveu o METEC – Matsushita Eco
Technology Center Co., que tem como base os 5 “R”:
- Redefina (reprojete) peça e materiais;
- Reduza o número de componentes;
- Revise (remanufature) tudo que é possível;
- Recicle todos os materiais;
- Recupere (regenere) energia.
Este projeto não foi desenvolvido para atender apenas produtos novos
da Matsushita ou exclusivamente de sua fabricação. O grupo estruturou
uma rede para coleta de máquinas de lavar, TVs, aparelhos de ar
condicionado ou refrigeradores recebidos por 47 pontos de coleta no
Japão.
A coleta dos equipamentos custa entre USD 20 a USD 45, e este valor
pode ser negociado como base de troca por um novo eletrodoméstico na
National ou Panasonic.
Periodicamente as cargas recebidas pelos pontos de coleta são
enviadas à METEC, onde são divididas em quatro grupos, por tamanho e
procedência.
Os resultados do projeto são bastante animadores. Em 2005 foram
reciclados mais de 700 mil eletrodomésticos. Todos os materiais são
vendidos nos mercados de metais ou outros tipos de matéria prima.
6. Conclusões
É notório que a Logística Reversa, embora com uma importância
crescente, é ainda uma área com pouca ênfase na estratégia competitiva
das empresas. Podemos observar este fato quando verificamos que, apesar
de representar uma operação tão complexa quanto à logística
convencional, não há função gerencial dedicada a este assunto nas
empresas.
Outro aspecto que caracteriza uma área incipiente é a pouca
disponibilidade de material bibliográfico sobre o assunto. São raros os
autores especializados no tema no Brasil e no exterior.
No Brasil, pelo fato da legislação ainda
engatinhar na
questão ecológica / ambiental, fator de grande influência na motivação
para a organização de um canal convencional, as estatísticas e materiais
bibliográficos da logística reversa limitam-se praticamente a casos de
reciclagem bastante tradicionais, como por exemplo, o das garrafas PET,
das latas de alumínio, materiais ferrosos e de óleos lubrificantes.
A revalorização econômica ainda predomina sob a revalorização
ecológica e legal no que tange aos fatores de influência para a
organização de um canal de distribuição reverso.
De qualquer forma esta realidade está mudando rapidamente. A
logística reversa está se consolidando como uma nova e crescente
preocupação no planejamento e na visão estratégica das empresas.
Como vimos, uma consciência ecológica crescente da sociedade,
exercendo pressão sobre as empresas e sobre o governo, a tendência de
uma legislação ambiental cada vez mais rigorosa tanto nos países em
desenvolvimento quanto nos países desenvolvidos, a premência das
empresas de se diferenciarem no mercado através de uma política de
serviços mais liberais para os consumidores e de reduzirem custos, dado o
acirramento da competitividade em uma sociedade globalizada, são
fatores que estão acelerando a importância da logística reversa tanto de
pós-consumo como de pós-venda.
Neste cenário a área da logística empresarial toma um novo foco de
importância. Os aspectos puramente logísticos irão influenciar no
equilíbrio entre os fluxos reversos e diretos.
Os desafios da logística reversa são ainda maiores comparados à
logística convencional. As fontes de produtos de pós-consumo ficam, em
geral, próximas aos grandes centros e irão alimentar indústrias que
estão distantes destes centros, próximas às matérias primas novas,
gerando dificuldades logísticas.
Além disso, com a diversidade dos canais de distribuição, a
estruturação da logística reversa torna-se a cada dia uma atividade mais
desafiadora. No entanto, as organizações estão sendo cada vez mais
pressionadas a posicionarem-se quanto a sua contribuição para
preservação do meio ambiente.
Os impactos da alta competitividade mundial já estão sendo
percebidos, através de problemas como aquecimento global, desmatamento e
poluição. E por esta razão, os consumidores estão cada vez mais
exigentes quanto à responsabilidade social empresas, que não devem mais
ter foco no curto prazo, e sim como o futuro.
Referências:
Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias. Disponível em: <
www.inpev.org.br>. Acesso em 24 Abril 2007.
LACERDA, Leonardo.
Logística Reversa – Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais. acessado no endereço web http://www.centrodelogistica.com.br/new/fs-panoramas.htm, em 28/03/2007.
LEITE, Paulo Roberto.
Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
REVISTA LOGÍSTICA Movimentação e Armazenagem de materiais. Uma
fábrica de desmontagem. Ano XXVII – No. 196 – Janeiro de 2007. São
Paulo: Editora Instituto IMAM.
MALINVERNI, Cláudia.
Logística Reversa: Em nome do meio ambiente. Revista Tecnologística. Ano IX – N° 102 – Maio 2004. Publicare Editora.
MUELLER, Carla Fernanda.
Logística Reversa Meio-ambiente e Produtividade. Acessado na Internet no endereço web http://www.gelog.ufsc.br/Publicacoes/Logistica%20Reversa.pdf em 31/03/2007.
NOVAES, Antônio Galvão.
Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição: Estratégia, Operação e Avaliação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
ROGERS, Dale S., TIBBEN-LEMBKE, Ronald S., Going Backwards: Reverse
Logistics Trends and Practices, Center of Logistics Management,
University of Nevada, Reno, 1998.
Escrito Por :
Leandro Callegari Coelho