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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Logística reversa – muito além da reciclagem

O crescimento dos mercados globais, o aumento da competitividade e as influências de tecnologia, obsolescência e a modernidade estão causando significativos impactos na rotina das organizações.
Estas mudanças ocasionaram o aumento da necessidade de integração das operações comerciais e de transporte e planejamento, momento em que foi percebida a capacidade da logística em criar valor para o cliente, o que fez com que a atividade tomasse um papel essencial na otimização dos recursos e na modernização das técnicas de gestão e de produção das empresas.
O foco antes dedicado exclusivamente à obtenção de vantagem competitiva em embalagem, desenvolvimento de novos produtos e redução de custos de matéria prima, hoje passou a ser ampliado, pois a grande maioria dos produtos disponíveis no mercado hoje não é totalmente consumida.
Com o aprimoramento dos conceitos e das ferramentas logísticas ocorreu um processo de especialização visando atender uma necessidade crescente de gestão eficiente do fluxo de retorno de produtos e materiais. A partir deste momento o fluxo inverso da cadeia de suprimentos passou a fazer parte das competências logísticas, sem perder seu foco: satisfação dos clientes.


Os descarte adequado de resíduos de materiais não utilizados, embalagens e produtos com componentes químicos estão caracterizando um grande desafio às organizações, e seu impacto sobre a sociedade e meio ambiente fazem do tema um caso de extrema relevância.

Entre as alternativas de destino a estes materiais, existe a reciclagem, o reprocessamento e devolução ao mercado, ou ainda, no caso de não haver mais utilidade do material, o descarte pela deposição em algum depósito definitivo na forma de lixo. O processo de movimentação destas mercadorias se dá através de canais de distribuição especiais.
É notável o crescente interesse pelo assunto convencionalmente chamado de “logística reversa”, contudo ainda poucos autores se dedicaram a pesquisa e desenvolvimento de material científico sobre o tema.
Na Logística tradicionalmente realizada, parte-se de um fabricante e define-se o caminho até o consumidor final. De forma simplificada, a Logística Reversa trata do caminho inverso, no qual o produto tem como ponto de partida os inúmeros consumidores, com destino ao fabricante.
Desta forma pode-se verificar a primeira característica do processo: o desafio de reunir produtos disseminados entre milhares de clientes para retornarem a um mesmo fabricante. As empresas cada vez mais investem em campanhas sociais e buscam comprometer-se com o meio ambiente e com a saúde. Assim as empresas estão sendo obrigadas a repensar suas estratégias comerciais e seus produtos, pois sua imagem é diretamente afetada caso seu produto cause danos à sociedade.

1. A Logística Reversa e seus Canais de Distribuição
Apesar da literatura ainda ser bastante restrita sobre o tema, existem algumas definições, conceitos e nomenclatura de Logística Reversa bem aceitos em geral que apresentamos a seguir.
A logística reversa  apresenta diversas definições que foram evoluindo ao longo do tempo. Algumas delas apresentamos abaixo.
“Logística reversa é um amplo termo relacionado às habilidades e atividades envolvidas no gerenciamento de redução, movimentação e disposição de resíduo de produtos e embalagens…” (CLM, 1993:323, Apud: Leite, 2003).
“Logística reversa: em uma perspectiva de logística de negócios, o termo refere-se ao papel da logística no retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura…” (Stock, 1998:20, Apud: Leite, 2003).
“O Processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição” (Rogers e Tibben-Lembke, 1999:2, Apud: Leite, 2003).
“Logística reversa cuida dos fluxos de materiais que se iniciam nos pontos de consumo dos produtos e terminam nos pontos de origem, com o objetivo de recapturar valor ou  de disposição final” (Novaes, 2004: 54).
Adotaremos neste documento a definição de logística Reversa de Leite (2003:16), assim definida: “entendemos a logística reversa como a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros”.
Desta forma, a logística reversa tem como objetivo, segundo Leite (2003), tornar possível o retorno dos bens ou de seus materiais constituintes ao ciclo produtivo ou de negócios, agregando valor econômico, ecológico, legal e de localização. Ainda segundo Novaes (2004) a logística reversa tem dois objetivos distintos: (1) recapturar valor; e (2) oferecer disposição final.
Estas atividades visam 3 finalidades: reciclagem, reprocessamento ou descarte. Entende-se como reciclagem a transformação de componentes/materiais usados para serem reincorporados na fabricação de novos produtos. Este é o exemplo do aço: a sucata de produtos descartados é misturada ao mínimo de ferro em indústrias siderúrgicas.
Sob a ótica da reciclagem e preservação do meio ambiente, alguns autores citam a logística reversa como logística verde. A indústria de latas de alumínio é notável no seu grande aproveitamento de matéria prima reciclada, tendo desenvolvido meios inovadores na coleta de latas descartadas.
Nos casos em que a reciclagem é anti-econômica ou há excesso de oferta no mercado, é necessário garantir o descarte de forma segura para a população e meio ambiente.
Existem ainda outros setores da indústria onde o processo de gerenciamento da logística reversa é mais recente, como na indústria de eletrônicos, automobilística e de produtos radioativos. Estes setores também têm que lidar com o fluxo de retorno de embalagens, de devoluções de clientes ou do reaproveitamento de materiais para produção.
Tendo como foco o reprocessamento para ampliação do ciclo de vida do produto/embalagem, podemos citar como exemplo os fabricantes de bebidas. Estes têm que gerenciar todo o retorno das garrafas dos pontos de venda até seus centros de distribuição.
Uma situação diferenciada trata de empresas terceiras que têm como objetivo de negócio a reciclagem de materiais para um novo processo produtivo, independente do fabricante original. Podemos citar exemplos de produtos inseridos neste cenário como sendo pneus, cartuchos de tinta de impressoras, garrafas pet, etc., que não voltam para sua indústria de origem, mas sim são fontes de matéria prima para indústrias completamente diferentes.
No caso de latas de alumínio a logística reversa ocorre para reciclagem dos produtos. As latas são recolhidas, sofrem compactação em volumes menores e retornam para os fabricantes. Esse processo se deve ao alto custo do metal.
É importante que, neste estágio, conceituemos a vida útil de um bem como sendo o tempo decorrido desde a sua produção original até o momento em que o primeiro possuidor se desembaraça dele. Esse desembaraço pode ocorrer pela extensão de sua vida útil, com novos proprietários ou pela disponibilização por outras vias, como a coleta de lixo urbano, as coletas seletivas, as coletas informais, entre outras, passando-a à condição de  bens de pós-consumo (Leite, 2003).
As duas grandes áreas de logística reversa, tratadas de forma independente pela literatura, são diferenciadas pelo estágio ou fase do ciclo desta vida útil do produto retornado, conforme ilustrado na figura 7. Esta diferença se faz necessária, pois o produto logístico, os canais de distribuição reversos em que os produtos percorrem, os objetivos de negócio e, por fim, as técnicas operacionais utilizadas em cada área de atuação, são distintos.
A logística reversa de pós-venda é área de atuação da logística que se ocupa do equacionamento e operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas de bens de pós-vendas em uso ou com pouco uso, os quais por diferentes motivos retornam aos diferentes estágios das cadeias de distribuição direta. O objetivo do negócio desta área da logística empresarial é agregar valor a um produto que é devolvido por razões comerciais, erro no processamento dos pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento, avarias no transporte, etc..
Por outro lado, a logística reversa de pós-consumo é a área de atuação da logística que equaciona e operacionaliza o fluxo físico e as informações correspondentes de bens de consumo que são descartados pela sociedade e que retornam ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo por meio dos canais de distribuição reversos específicos.
Bens de pós-consumo são bens em fim de vida útil, ou usado com possibilidades de reutilização, e os resíduos industriais em geral. O objetivo de negócio desta área da logística é agregar valor a um produto logístico constituído por bens sem interesse de uso ao proprietário original ou que ainda possuam condições de utilização, por produtos descartados no final de sua vida útil e por resíduos industriais.

Figura 1: área de atuação e as diversas etapas da logística reversa
O campo de atuação da logística reversa é bem ilustrado por Leite (2003) através da figura 2, onde são resumidas as principais etapas dos fluxos reversos nas duas áreas de atuação acima citadas.

Figura 2: Foco de atuação da logística reversa
Na figura 2, acima, observamos as duas grandes áreas da logística reversa, pós-consumo e pós-venda, sua interdependência e suas diversas etapas, classificadas conforme motivações de seu retorno:
Bens de pós-venda:
  • Garantia/qualidade: devoluções de produtos que apresentam defeitos de fabricação ou de funcionamento, avarias de produto ou de embalagem.
  • Comerciais: retorno de produtos devido a erros de expedição, excessos de estoque no canal de distribuição, mercadorias em consignação, liquidação de estação de vendas, pontas de estoque etc., que retornam ao ciclo de negócios por meio de redistribuição em outros canais de vendas. Outro motivo comercial para o retorno de produtos é o término de validade de produtos ou problemas observados no produto após a venda, o chamado recall.
  • Substituição de componentes: retorno de bens duráveis e semiduráveis em manutenções e consertos ao longo de sua vida útil e que são remanufaturados e retornam ao mercado primário ou secundário ou enviados à reciclagem ou para disposição final quando não reaproveitados.
Bens de pós-consumo:
  • Condições de uso: retorno do bem durável ou semidurável que há  interesse de sua reutilização, com a vida útil estendida, percorrendo o canal reverso de reuso em mercado de segunda mão até atingir o fim de vida útil, caracterizando um loop de vida do produto.
  • Fim de vida útil: esta etapa caracteriza-se por duas áreas: bens duráveis ou dos descartáveis. Na área de duráveis e semiduráveis, os bens utilizam o canal reverso de desmontagem e reciclagem industrial, sendo desmontados na etapa de desmanche e seus componentes reaproveitados ou remanufaturados, retornando ao mercado secundário ou à própria indústria, sendo uma parte destinada à reciclagem. No caso de descartáveis, os produtos retornam por meio do canal reverso de reciclagem industrial, onde são reaproveitados e se transformam em matérias-primas secundárias, voltando ao ciclo produtivo ou irão para a disposição final, ou seja, aterros sanitários, lixões e incineração e recuperação energética.
Assim sendo, os canais de distribuição reversos são divididos na literatura em dois tipos, a saber:
– Canais Reversos de pós-consumo: trata de produtos que têm vida útil variável (de alguns dias até décadas), e após um tempo de utilização perdem suas características básicas de funcionamento e retornam para o ciclo produtivo de alguma forma, conforme mostra a figura 3 abaixo.
Logística Reversa - muito além da reciclagem
Figura 3: Exemplo de canal reverso de pós-consumo de eletrodoméstico.
– Canais Reversos de pós-venda: retorno de embalagens e devolução de produtos ao varejista ou fabricante. Ex.: devolução de mercadorias vendidas por catálogo da Rogers Tibben-Lembke (EUA)

2. Canais de Distribuição Reversos de Bens de Pós-Consumo e de Pós-Venda

Conforme Leite (2003), existem três grandes categorias de bens produzidos: os bens descartáveis, os bens semiduráveis e os bens duráveis classificados de acordo com a sua vida útil. Estas definições são fundamentais para um melhor entendimento das atividades dos canais de distribuição reversos.
Bens descartáveis: são bens que apresentam duração de vida útil média de algumas semanas, raramente superior a seis meses. São exemplos de bens descartáveis os produtos de embalagens, brinquedos, materiais para escritório, suprimentos para computadores, artigos cirúrgicos, pilhas de equipamentos eletrônicos, fraldas, jornais, revistas, etc.
Bens Duráveis: são os bens que apresentam duração de vida útil variando de alguns anos a algumas décadas. Exemplos: automóveis, eletrodomésticos, eletro-eletrônicos, as máquinas e os equipamentos industriais, edifícios, aviões, navios, etc.
Bens semiduráveis: são os bens que apresentam duração média de vida útil de alguns meses, raramente superior a dois anos. Sob o enfoque dos canais de distribuição reversos dos materiais, apresenta características ora de bens duráveis, ora de bens descartáveis. Exemplos: baterias de veículos, óleos lubrificantes, baterias de celulares, computadores e seus periféricos, revistas especializadas, etc.
O acelerado desenvolvimento tecnológico vivenciado pela sociedade nas últimas décadas, a introdução de novos materiais que têm substituído outros com melhoria de desempenho técnico do produto e de sua embalagem e redução de custos dos produtos, associados ao acirramento da competitividade, como conseqüência da globalização e da própria tecnologia, têm feito que empresas passem a se diferenciar pela constante inovação, reduzindo drasticamente o ciclo de vida dos produtos causando um alto grau de obsolescência e assim sendo uma alta tendência à descartabilidade. Esta tendência têm causado modificações nos hábitos mercadológicos e logísticos das empresas modernas, exigindo alta velocidade no fluxo de distribuição física dos produtos.
Uma das conseqüências é a redução do ciclo de compra, observando-se um aumento das quantidades de produtos devolvidos nas cadeias reversas de pós-venda, exigindo um sistema de logística reversa mais eficiente. Por outro lado, com os ciclos de vida cada vez menores, os produtos ditos duráveis serão descartados mais rapidamente transformando-se em semiduráveis. Da mesma forma, os produtos semiduráveis se tornarão descartáveis. Assim sendo, os produtos de pós-consumo aumentam e exaurem os meios de disposição final, tornando-se necessário equacionar o problema de retorno dos bens de pós-consumo.
A figura 4, abaixo, ilustra o fluxo de produtos nos canais de distribuição diretos, desde as matérias-primas até o mercado, chamado de mercado primário dos produtos. Os canais de distribuição reversos de pós-consumo são constituídos pelo fluxo reverso de uma parcela de produtos e de materiais constituintes originados no descarte dos produtos após a sua utilização pelo usuário original e retornando ao ciclo produtivo. Dois são os subsistemas reversos: os canais reversos de reciclagem e os canais reversos de reuso (Leite, 2003).
Os canais reversos de pós-venda são constituídos pelas diferentes formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com pouco e nenhum uso, que fluem no sentido inverso, do consumidor ao varejista ou ao fabricante, do varejista ao fabricante, entre as empresas, motivado em geral por problemas de qualidade, garantia, processos comerciais entre empresas e retornando ao ciclo de negócios de alguma forma.
Logística Reversa - muito além da reciclagem
Figura 4: Canais de distribuição diretos e reversos
Exemplos de Canais Reversos:

Canal Reverso Exemplo Características
Reuso Leilões de Empresas Equipamentos usados, móveis, utensílios, veículos, peças ou partes de equipamentos sem condições de uso (sucata), sobrasindustriais, excessos de estoque de insumos, etc.
Pós-Venda E-commerce Nível alto de devoluções por não-conformidade às expectativas do consumidor (25 a 30%). Produtos com embalagens individuais, clientes desconhecidos e demanda pouco previsível.
Pós-consumo Embalagens Descartáveis Segmento dos mais importantes de canais reversos. Revalorização pelo sistema de reciclagem dos materiais que o constituem. Alta “visibilidade ecológica”. Em geral são dispostos impropriamente, gerando poluição em centros urbanos.
Pós-venda Lojas de Varejo Consumidores devolvem ao varejista produtos recém adquiridos e não consumidos. Os motivos são principalmente: arrependimento pela compra, erro na escolha, defeitos, não entendimento dos manuais.

3. Motivos da crescente preocupação com a logística reversa, fatores de influência
A sociedade moderna vive hoje uma preocupação crescente com o equilíbrio ecológico. O aquecimento global, a poluição do meio ambiente, em muitas áreas descontrolada, são apenas dois exemplos de motivos da sensibilidade ecológica que está se formando na consciência das pessoas, de governos e, mais recentemente, entre empresas ao redor do mundo.  O crescimento econômico com o mínimo de impacto ambiental, chamado de  desenvolvimento sustentado, é  um conceito aceito e utilizado hoje universalmente e  baseia-se na idéia de atendimento às necessidades da atual sociedade sem comprometer gerações futuras.
As empresas modernas estão utilizando a logística reversa, própria ou contratada de empresas especializadas, como forma de aumento de sua competitividade no mercado. Pesquisa realizada nos EUA com empresas de vários setores apontam diversos motivos estratégicos para a adoção de atividades de logística reversa nas empresas, conforme mostrado no quadro abaixo:
Logística Reversa - muito além da reciclagem
Quadro 1: Motivos para as empresas operarem os canais reversos.
Observa-se, portanto, que o motivo “aumento de competitividade” destaca-se entre os demais, o que nos leva a refletir sobre a consciência ecológica que os consumidores estão formando e a influência que tal consciência está exercendo sobre as empresas. Outros fatores, tais como, econômicos, legislativos, logísticos e tecnológicos são apontados por Leite (2003) como os fatores principais de influência na organização dos canais reversos de pós-consumo nas empresas. Tais fatores atuando isoladamente ou em conjunto vão influenciar no equilíbrio entre a quantidade disponível no fluxo dos canais diretos e no fluxo dos canais reversos, como mostra a figura 5 abaixo.
Logística Reversa - muito além da reciclagem
Figura 5: Fatores que influenciam na organização dos canais reversos de pós-consumo
Os fatores Econômicos, Tecnológicos e Logísticos são os que garantem interesses satisfatórios implicando em níveis mais altos de organização nas cadeias reversas e, como tal, são chamados de fatores necessários.  Por outro lado, os fatores Ecológicos e Legislativos são chamados de fatores modificadores, pois alteram as condições naturais do mercado, nas diversas etapas reversas, permitindo que novas condições de equilíbrio sejam estabelecidas.
Ainda segundo o autor, as condições essenciais de organização e implementação da logística são:
  • Remuneração em todas as etapas reversas.
  • Qualidade dos materiais reciclados
  • Escala econômica de atividade.
  • Mercado para os produtos com conteúdo de reciclados.
Os fatores citados acima, assim como, as condições essenciais para a implementação da logística reversas formam uma modelo de dependência entre tais fatores e os níveis de organização e dinamismo dos canais de distribuição reversos (Leite, 2003).

4. Legislação Ambiental no Mundo e no Brasil
Alguns canais reversos se organizam por se mostrarem rentáveis economicamente pela natureza do produto logístico, suas condições tecnológicas de reutilização ou transformação. Outros canais, porém, mostram-se pelas leis naturais do mercado pouco rentáveis. Assim quando alguns desses canais apresentam um desequilíbrio com impacto ambiental entre o fluxo direto e o reverso ocorre uma intervenção governamental em forma de leis, muitas vezes exigida pela sociedade.
A legislação ecológica / ambiental encontra-se em diferentes estágios nos diversos países e envolvem diferentes aspectos do ciclo de vida útil de um produto, desde a fabricação e o uso de matérias-primas até sua disposição final ou a dos produtos que o constituem.
Novos princípios de proteção ambiental estão sendo formados em diversos países desenvolvidos, tal como, o de EPR (Extended Product Responsability ou Responsabilidade Estendida do Produto) que preconiza a idéia de que o produtor ou a cadeia industrial deve ter a responsabilidade pelo seu produto até a decisão correta do seu destino após o seu uso original.
Alguns desses novos conceitos em legislação ambiental são apresentados abaixo:
  • Restrições a respeito de aterros sanitários e incineradores: proibição de novos aterros sanitários em muitos estados americanos ou proibição de disposição em aterros sanitários de certos produtos.
  • Implantação de coleta seletiva domiciliar ou comercial.
  • Responsabilidade do fabricante sobre o canal reverso de seus produtos (“product take back”): legislação no Japão em 1997 impôs a obrigatoriedade para a indústria automobilística de organização de rede reversa de reciclagem. Em julho de 1996 França. Alemanha e Holanda em acordo entre governos estabelecem que a responsabilidade de coleta, reciclagem ou do reaproveitamento dos automóveis descartados pela sociedade fosse para os fabricantes de automóveis.
  • Uso de selos verdes para identificar produtos “amigáveis” ao meio ambiente, produtos de pós-consumo que podem ou não ser depositados em aterros sanitários, restrição ao uso de produtos com conteúdos de matérias-primas secundárias, etc.
  • Valor monetário depositado na compra de certos tipos de embalagens.
  • Índices mínimos de reciclagem: alguns estados dos EUA adotam a obrigatoriedade do equilíbrio de produção e reciclagem. Outros possuem legislação específica incentivando o uso de produtos fabricados com materiais reciclados. Alguns adotam um sistema tributário especial para os diversos elos da cadeia reversa;
Nos EUA existem três grandes grupos de leis ambientais: sobre a disposição final dos produtos e sistemas de coletas. As leis que incentivam o mercado a usar produtos com algum índice de reciclagem, regulamentando os selos verdes ou incentivos financeiros e, em forte intensidade, as leis relativas à redução de resíduos sólidos na fonte e interdição de produtos com alto impacto ambiental. Os governos locais são responsabilizados para equacionar os problemas.
Na Europa as leis tendem a responsabilizar os produtores e demais agentes da cadeia produtiva direta pelos problemas  e estruturação dos canais reversos de seus produtos. O ônus da coleta seletiva e da redução de resíduos sólidos recai sobre os produtores.
No Japão é um dos países mais desenvolvidos em reciclagem de materiais, porém, com baixa intervenção governamental em relação à índices de reciclagem, apesar de apresentar os maiores índices de reciclagem do mundo, em torno de 60% na maioria dos materiais recicláveis, como papel, embalagens, baterias, etc.
No Brasil foi criado em 1998 o Programa Brasileiro de Reciclagem pelo Ministério da Indústria e Comércio para propor uma legislação e diretrizes na área. Vários aspectos envolvendo logística reversa de pós-consumo estão sendo tratados em propostas de lei no congresso.

5. Cases de Logística Reversa
Caso INPEV:
Devido a alta do setor de agro negócios, a indústria de defensivos agrícolas movimentou em 2003 US$ 2,5 bilhões. Esse faturamento gera em média 23 milhões de quilos de embalagens de agrotóxicos por ano.
Depois do uso, estas embalagens se transformam em resíduos tóxicos, representando graves riscos à população e ao meio ambiente.
O governo regulamentou a coleta e desativação de embalagens de defensivos agrícolas em 2000, através da Lei Federal 9.974.
Com base nesta legislação foi criado um programa pioneiro que estabelece claramente a responsabilidade de cada um dos elos da cadeia de produção e abastecimento dos defensivos agrícolas, é o INPEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias.
O Inpev é composto por empresas associadas, órgão públicos, agricultores, revendedores, cooperativas, organizações não governamentais e associações       de classe.
O instituto foi criado logo após a aprovação da lei 9.974 e tem a responsabilidade de desenvolver e gerenciar instrumentos que garantam a viabilidade operacional do processo.
Características do modelo:
  • Agilidade e eficiência no manuseio de embalagens tóxicas;
  • Aumento da segurança no manuseio destes materiais tóxicos.
O Inpev é responsável pelo transporte adequado das embalagens vazias de defensivos agrícolas para destino final (recicladoras ou incineradoras) conforme determinação legal.
Para realizar o processo logístico, o Instituto utiliza o conceito de logística Reversa, disponibilizando o caminhão que leva os agrotóxicos para os distribuidores e cooperativas do setor e que voltaria vazio, para trazer as embalagens vazias (a granel ou compactadas), que são recolhidas e  armazenadas nas unidades de recebimento, conforme modelo a seguir:
Logística Reversa - muito além da reciclagem
A implantação bem sucedida do modelo de Logística Reversa foi conquistada através da parceria com a empresa líder no transporte de defensivos agrícolas no Brasil, e o conceito está alinhado com os princípios do instituto de preservação do meio ambiente e da saúde humana e apresenta duas grandes vantagens, a saber:
  1. Segurança para o meio ambiente e saúde humana: uso de transportadora capacitada para realizar este tipo de transporte;
  2. Economia: caminhão já teve parte dos custos pagos quando levou produto cheio.
Dados atualizados no site oficial da INPEV informa que entre janeiro e março de 2007 já foram recolhidas mais de 4.000 toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas. Nos últimos 12 meses (período compreendido entre fevereiro de 2006 e março de 2007), já seguiram para reciclagem ou incineração 20.202 toneladas de embalagens.
O fluxo logístico reverso realizado pelo Inpev ocorre confirme a ilustração a seguir:
Logística Reversa - muito além da reciclagem
Caso Panasonic:
No Japão a logística reversa está em destaque. Diversas iniciativas têm garantido a aplicação dos conceitos dentro e fora dos limites das fábricas.
A marca Panasonic, assim como a National, pertence ao grupo Matsushita, que criou, em 2001, uma planta no Japão para reciclar eletrodomésticos.
O Protocolo de Kyoto é o maior acordo para preservar o meio ambiente, e a partir dele que a Matsushita desenvolveu o METEC – Matsushita Eco Technology Center Co., que tem como base os 5 “R”:
  1. Redefina (reprojete) peça e materiais;
  2. Reduza o número de componentes;
  3. Revise (remanufature) tudo que é possível;
  4. Recicle todos os materiais;
  5. Recupere (regenere) energia.
Este projeto não foi desenvolvido para atender apenas produtos novos da Matsushita ou exclusivamente de sua fabricação. O grupo estruturou uma rede para coleta de máquinas de lavar, TVs, aparelhos de ar condicionado ou refrigeradores recebidos por 47 pontos de coleta no Japão.
A coleta dos equipamentos custa entre USD 20 a USD 45, e este valor pode ser negociado como base de troca por um novo eletrodoméstico na National ou Panasonic.
Periodicamente as cargas recebidas pelos pontos de coleta são enviadas à METEC, onde são divididas em quatro grupos, por tamanho e procedência.
Os resultados do projeto são bastante animadores. Em 2005 foram reciclados mais de 700 mil eletrodomésticos. Todos os materiais são vendidos nos mercados de metais ou outros tipos de matéria prima.


6. Conclusões
É notório que a Logística Reversa, embora com uma importância crescente, é ainda uma área com pouca ênfase na estratégia competitiva das empresas. Podemos observar este fato quando verificamos que, apesar de representar uma operação tão complexa quanto à logística convencional, não há função gerencial dedicada a este assunto nas empresas.
Outro aspecto que caracteriza uma área incipiente é a pouca disponibilidade de material bibliográfico sobre o assunto. São raros os autores especializados no tema no Brasil e no exterior.
No Brasil, pelo fato da legislação ainda engatinhar na questão ecológica / ambiental, fator de grande influência na motivação para a organização de um canal convencional, as estatísticas e materiais bibliográficos da logística reversa limitam-se praticamente a casos de reciclagem bastante tradicionais, como por exemplo, o das garrafas PET, das latas de alumínio, materiais ferrosos e de óleos lubrificantes.
A revalorização econômica ainda predomina sob a revalorização ecológica e legal no que tange aos fatores de influência para a organização de um canal de distribuição reverso.
De qualquer forma esta realidade está mudando rapidamente. A logística reversa está se consolidando como uma nova e crescente preocupação no planejamento e na visão estratégica das empresas.
Como vimos, uma consciência ecológica crescente da sociedade, exercendo pressão sobre as empresas e sobre o governo, a tendência de uma legislação ambiental cada vez mais rigorosa tanto nos países em desenvolvimento quanto nos países desenvolvidos, a premência das empresas de se diferenciarem no mercado através de uma política de serviços mais liberais para os consumidores e de reduzirem custos, dado o acirramento da competitividade em uma sociedade globalizada, são fatores que estão acelerando a importância da logística reversa tanto de pós-consumo como de pós-venda.
Neste cenário a área da logística empresarial toma um novo foco de importância. Os aspectos puramente logísticos irão influenciar no equilíbrio entre os fluxos reversos e diretos.
Os desafios da logística reversa são ainda maiores comparados à logística convencional. As fontes de produtos de pós-consumo ficam, em geral, próximas aos grandes centros e irão alimentar indústrias que estão distantes destes centros, próximas às matérias primas novas, gerando dificuldades logísticas.
Além disso, com a diversidade dos canais de distribuição, a estruturação da logística reversa torna-se a cada dia uma atividade mais desafiadora. No entanto, as organizações estão sendo cada vez mais pressionadas a posicionarem-se quanto a sua contribuição para preservação do meio ambiente.
Os impactos da alta competitividade mundial já estão sendo percebidos, através de problemas como aquecimento global, desmatamento e poluição. E por esta razão, os consumidores estão cada vez mais exigentes quanto à responsabilidade social empresas, que não devem mais ter foco no curto prazo, e sim como o futuro.

Referências:

Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias. Disponível em: <www.inpev.org.br>. Acesso em 24 Abril 2007.
LACERDA, Leonardo. Logística Reversa – Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais. acessado no endereço web http://www.centrodelogistica.com.br/new/fs-panoramas.htm, em 28/03/2007.
LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
REVISTA LOGÍSTICA Movimentação e Armazenagem de materiais. Uma fábrica de desmontagem. Ano XXVII – No. 196 – Janeiro de 2007. São Paulo: Editora Instituto IMAM.
MALINVERNI, Cláudia. Logística Reversa: Em nome do meio ambiente. Revista Tecnologística. Ano IX – N° 102 – Maio 2004. Publicare Editora.
MUELLER, Carla Fernanda. Logística Reversa Meio-ambiente e Produtividade. Acessado na Internet no endereço web http://www.gelog.ufsc.br/Publicacoes/Logistica%20Reversa.pdf em 31/03/2007.
NOVAES, Antônio Galvão. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição: Estratégia, Operação e Avaliação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
ROGERS, Dale S., TIBBEN-LEMBKE, Ronald S., Going Backwards: Reverse Logistics Trends and Practices, Center of Logistics  Management, University of Nevada, Reno, 1998.

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