Empresa opera um hub intermodal no porto e quer aumentar volume de carga conteinerizada nos trens
Especializada em logística ferroviária, a
Contrail Logística surgiu no mercado apostando no aumento da procura
dos embarcadores por opções de acesso ao Porto de Santos (SP) que fujam
dos gargalos rodoviários. Ela acredita também no aumento da carga
ferroviária conteinerizada no porto paulista, que hoje representa apenas
2% do total movimentado. A empresa foi criada em novembro de 2010 por
meio de uma parceria entre a consultoria de transportes e logística EDLP
– Estação da Luz Participações – e a MRS Logística, tendo como sócio o
fundo de infraestrutura BTG Pactual.
“Hoje, o volume de carga que chega a Santos em contêineres por ferrovia é desprezível, e nosso objetivo é justamente fomentar o volume de contêineres na ferrovia, além de otimizar o fluxo reduzindo as viagens dos contêineres vazios e, de quebra, aumentar a utilização do trem para cargas de alto valor agregado”, conta Maurício Quintella, presidente da Contrail.
O modelo adotado pela operadora se baseia
num tripé formado pelos centros ferroviários de consolidação de cargas
(CFCCs) – terminais intermodais localizados no interior que funcionam
como consolidadores de cargas; pelos vagões Double Stack, que levam dois
contêineres empilhados e otimizam a eficiência dos trens em até 150%; e
pelo Terminal Intermodal do Porto de Santos (Tips), que começou a
operar no final do ano passado.
O plano da Contrail prevê a implantação
de sete CFCCs na capital e no interior do estado de São Paulo, onde
serão realizados serviços de recebimento, armazenagem, estufagem e
desova de contêineres, desembaraço aduaneiro e embarque nos vagões. Os
terminais funcionarão ainda como depots de contêineres vazios.
Já o Tips está localizado na entrada do
porto, equidistante dos terminais das duas margens, e funciona como um
pulmão para o sistema ferroviário, sendo estratégico para a formação dos
trens e triagem dos contêineres que posteriormente são embarcados para
os terminais portuários de Santos. O Tips tem 300 mil m² e é dotado de
duas linhas de 800 metros para carga e descarga dos trens, o que permite
uma operação rápida, sem a necessidade de manobrar a composição,
otimizando a utilização dos vagões e locomotivas. “O Tips é fundamental
para sustentar nosso crescimento e atendermos o volume esperado de
contêineres por ferrovia no Porto de Santos”, diz Quintella, informando
que a capacidade do terminal é de até 1,2 milhão de TEUs.
No modelo adotado pela Contrail, ela
oferece a solução logística porto a porta ao cliente, faz a gestão de
todos os elos da cadeia intermodal, que consiste na entrega e na
distribuição no interior e no porto, as movimentações necessárias e o
transporte ferroviário.
Quintella afirma que a crise atual, que
trouxe redução de volumes movimentados em Santos, faz com que os
gargalos de acesso ao porto fiquem temporariamente esquecidos, mas
acredita que as grandes empresas estão preocupadas em ter uma opção
quando a economia retomar, por isso aposta na ferrovia. “O Sistema
Anchieta-Imigrantes está esgotado e uma nova opção rodoviária para
transpor a Serra do Mar não parece viável no médio prazo. O trem é a
opção mais lógica, uma vez que já está disponível e é mais competitivo e
sustentável”, garante.
Além disso, outra preocupação dos
clientes, que é a pontualidade das entregas devido à limitação de
passagem da MRS pelas linhas de trens urbanos da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM), em São Paulo, também não se justifica. “Eu
sempre digo que, justamente pelo fato de ter de respeitar a janela de
passagem, a MRS é muito pontual, pois, se não cumprir o horário, perde a
janela e tem prejuízos enormes. Hoje, a operação para Santos funciona
muito bem”.
Já o diretor Operacional da Contrail,
Rodrigo Paixão, lembra que, ao considerar apenas a distância entre a
origem das cargas e o porto, a opção ferroviária não se justificaria.
Porém, dado o contexto de acesso ao porto e a serra a ser transposta, a
equação fecha. “Fizemos um estudo que indica que 76% de nossas cargas
estão a, no máximo, 200 km entre a origem e o porto, o que tornaria o
caminhão imbatível. Só que não se pode levar em conta apenas um fator.
No custo total da operação, a ferrovia se justifica”, afirma, colocando
que não se trata apenas de comparar o frete ferroviário com o
rodoviário. “Pelas condições que os caminhoneiros estão oferecendo hoje,
é muito difícil competir em custo. Mas os clientes estão olhando além
do frete e buscando confiabilidade, rastreabilidade em tempo real,
segurança e nível de serviço, que é o que a Contrail oferece”.
Serviços
Hoje, o principal serviço oferecido pela Contrail é a ligação intermodal da região de Campinas e São José dos Campos para Santos, que já se encontra em operação e com sucesso. Na região, a companhia opera em um terminal da Rumo Logística em Sumaré e está desenvolvendo um novo ativo junto à MRS em Jundiaí.
O serviço tem tido demanda. Há três
meses, por exemplo, a Contrail assumiu 100% das operações dos
eletrônicos da LG que chegam de Manaus a Santos por cabotagem. “Somos
responsáveis pela carga desde sua retirada no porto até a entrega no
centro de distribuição da LG em Cajamar, na Grande São Paulo. É uma
operação emblemática, porque conseguimos trazer para a ferrovia uma
carga que é de altíssimo valor agregado e com um volume importante. Com
isso, estamos criando um produto novo para este tipo de mercado, que era
refratário ao uso do trem e que tem um cuidado muito grande com sua
carga”, diz Quintella. Segundo ele, a operação não causa conflito com os
armadores, que são parceiros no desenvolvimento do trem. “Eles estão
nos ajudando também a otimizar o uso dos contêineres”.
Dentro do conceito de reaproveitamento de
contêineres vazios, a Contrail criou uma operação para commodities
agrícolas em Uberaba (MG). A empresa arrendou um terminal dotado de um
silo onde recebe os grãos, armazena, estufa nos contêineres e leva para
Santos, fazendo ainda a análise de qualidade e o controle do fluxo para
os clientes. “Foi uma oportunidade que aproveitamos, e acabamos criando
um produto novo para o agronegócio. Por enquanto, o transporte é 100%
rodoviário, mas temos planos de levar este serviço para o trem também”,
afirma Quintella. Além dos grãos, a empresa começou a operar com o
açúcar, a partir de Campinas, que já desce estufado em contêineres para o
porto.
Para Quintella, o grande benefício do
modelo da Contrail é a possibilidade de consolidação da carga tanto no
interio quanto próximo ao porto “Praticamente a metade dos contêineres
que sobem ou descem para Santos está vazia, porque utilizam a rodovia. A
pulverização do mercado rodoviário impede a formação de hubs, o que nós
conseguimos. O transbordo da ferrovia acaba agregando valor, pois
reaproveitamos os contêineres vazios. O terminal é um ponto fundamental
neste sistema logístico e é nisso que estamos apostando”, finaliza.
Fonte: www.tecnologistica.com.br
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